POR JONAS MARINHO
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A disciplina de História, somadas as questões de História do Brasil e Mundial, é a responsável pela maior quantidade de pontos na prova de primeira fase do CACD. Na terceira fase, a prova de História do Brasil costuma ter amplo diferencial de notas. Isso quer dizer que se você for mal nas provas de História dificilmente será aprovado.
— Ah, mas já estudei História na escola. Deve ser fácil obter uma nota alta nessa matéria — você pode estar pensando.
Peço desculpas por quebrar essa ilusão. O fato de ter obtido ótimas notas no colégio ou até mesmo ter cursado a disciplina na universidade está longe de garantir pontuação alta no CACD. Isso ocorre porque a prova tem especificidades e demanda extenso conhecimento sobre o histórico da política externa brasileira e das relações internacionais, temas geralmente poucos abordados durante o Ensino Médio.
Além disso, é preciso escrever as respostas às questões dissertativas desde a perspectiva de um diplomata brasileiro, não de um analista ou de um historiador. Dessa forma, o candidato necessita filtrar informações, conectá-las de forma coerente e responder integralmente o que foi pedido no comando da questão. Mais adiante retomaremos esse ponto, por meio do infrutífero debate sobre forma x conteúdo, muito discutido pelos professores que dão aulas de história para o CACD.
Orientações iniciais
Estude com as provas anteriores ao seu lado. Pode parecer estranho, a princípio, mas é bastante eficaz. Busque responder questões sobre o tema que estudou logo após o término da sessão de estudos. Esse processo mostra não somente se você assimilou o conteúdo, mas também se conseguiu entender a forma como a banca costuma cobrar aquele tema.
Algumas questões da primeira fase são muito recorrentes e voltam em anos posteriores com roupagens distintas, mas com o mesmo conhecimento sendo demandado. Um exemplo clássico é o caráter nacionalista da primeira fase da Revolução Cubana. Com diferentes textos, o tema foi cobrado várias vezes dos candidatos. Se há o hábito de responder provas anteriores, a resposta torna-se facilmente conhecida, o que economiza tempo para os itens mais complexos que deverão ser analisados.
Outro ponto importante é não ter arrogância epistêmica na seleção de fontes. Explico: a Wikipédia me ajudou bastante com informações factuais para a primeira fase do certame. Desde que haja mínimo grau de confiabilidade das informações, não há porque evitar algumas fontes. Pretendo, inclusive, explorar o mundo das fontes de estudo durante minhas primeiras aulas do Curso de História do Brasil para o CACD, montado em co-autoria com o professor Rômulo Dias, que será lançado pelo Grupo Ubique em julho de 2020.
Abaixo indico livros que creio importantes para o início da preparação.
Bibliografia introdutória para o CACD
História Mundial
Recomendo iniciar o estudo por esse excelente e resumido livro: BURNS, Edward McNALL. Historia Da Civilização Ocidental – V. 2. A obra cobre a maioria dos pontos demandados no edital do CACD e tem informações relevantes não encontradas facilmente em outros livros. A leitura deve ser preferencialmente acompanhada de fichamentos.
Depois da leitura do clássico livro supramencionado, é interessante ler o professor Sombra Saraiva, que publicou a seguinte obra: SOMBRA SARAIVA, José Flávio. História das Relações Internacionais Contemporâneas – Coleção RI’s. No livro, pode-se perceber a evolução do sistema internacional desde o século XIX, o que é muito útil, não somente para História, mas também para Política Internacional.
Por fim, caso o candidato tenha tempo disponível, alguns capítulos das 4 Eras do professor Hobsbawm podem ser lidos, a título de complementação. O livro A Era dos Extremos foi o que mais me foi útil na prova, considerando as obras da tetralogia do professor britânico.
História do Brasil
Para História do Brasil, a obra do professor Boris Fausto (FAUSTO, Boris. História do Brasil. EDUSP) é um bom ponto de partida. Ocorre que deve ser conjugada com o livro do professor Amado Cervo (CERVO, Amado; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Editora UnB), para compreensão da história da política externa nacional.
Esses dois livros dão uma boa base inicial, que deve ser aprofundada por meio de outras leituras. A coleção História do Brasil Nação (SCHWARCZ, Lilia et al. História do Brasil Nação. Volumes 1 a 3. Editora Objetiva) é bastante interessante, sobretudo nos capítulos de política doméstica e política externa.
Além disso, o livro do professor Doratioto (DORATIOTO, Francisco; VIDIGAL, Carlos Eduardo. História das relações internacionais do Brasil. Editora Saraiva), membro da banca avaliadora em muitas ocasiões, é extremamente útil e direto. Muitas informações dessa obra foram de grande valia para meu resultado positivo na prova de História.
Forma x conteúdo: um falso debate
Quando era um candidato do CACD, muito me afligiam as intermináveis discussões entre os professores de História que preparam para o concurso sobre a prevalência da forma ou do conteúdo nas respostas às questões da terceira fase de História. Um lado do debate defendia que uma boa redação, estruturada com argumentos fortes, era suficiente para esconder a falta de conteúdo que um candidato eventualmente enfrentasse em uma questão. O outro lado dizia que bastava colocar o máximo de conteúdo no espaço disponível, ignorando requisitos formais, como introdução ou conclusão.
Diante desse panorama, fiquei muito indeciso como candidato. As duas propostas pareciam excluir-se mutuamente. Eu deveria priorizar a forma ou o conteúdo? Confesso que nos primeiros anos vacilei adotando uma estratégia ou outra. Os resultados não foram bons. Tirei notas ruins nos primeiros anos de preparação (perdi muito tempo com a forma) e uma nota razoável no ano anterior à aprovação (com foco total em conteúdo). Parece que a estratégia do conteúdo funciona mais, não é? Na verdade, não. O razoável não vai te colocar dentro das vagas.
Quando fui aprovado, tirei a maior nota de História no resultado provisório do CACD e a segunda maior no definitivo. O que fez a diferença? O equilíbrio. Seguramente a forma importa. Como diplomata, você não vai entregar um documento cheio de erros e com pouco nexo lógico. No entanto, se seu documento for lindo, estruturado, mas sem conteúdo, ele será ignorado.
Na prova de História, vale a mesma regra. Filtre informações, estabeleça o que é fundamental para responder ao que foi pedido e organize os fatos em uma estrutura que tenha coerência e sentido. Não é necessário criar argumentos geniais nem colocar uma enxurrada de fatos. O que se exige é uma resposta estruturada em que todos os pontos são bem amarrados e relacionados diretamente ao enunciado.
Considerações finais
O estudo de História do Brasil deve ser realizado preferencialmente junto ao de História Mundial. Entender como funciona o país e o sistema internacional em um determinado momento e estabelecer correlações entre o que ocorre no âmbito doméstico e a conjuntura internacional é um diferencial expressivo do candidato.
O volume de informações é muito grande, por isso técnicas de organização dos fatos por períodos históricos e a elaboração de materiais de fácil consulta na véspera dos exames são essenciais.
Desejo bons estudos e espero vê-los em breve no Itamaraty!
Jonas Marinho
Diplomata
Jonas Teixeira Marinho é terceiro-secretário da carreira de diplomata. É professor de História e orientador do Programa de Mentoria para o CACD do Grupo Ubique, com quem está organizando o curso de História do Brasil, em co-autoria com o professor Rômulo Dias. É, ainda, articulista da área de Política Internacional, Economia e Comércio Internacional.
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